Qual a maior bobagem sobre a reforma do Código Florestal?


Muita bobagem tem sido dita no debate sobre a reforma do Código Florestal. Algumas pessoas repetem as bobagens por ignorância, outras propositalmente para confundir.

A maior bobagem repetida por alguns ruralistas é a de que quem defende meio ambiente serve a interesses internacionais de prejudicar o Brasil. Especificamente, seriam ONGs financiadas por capital estrangeiro que quer tornar menos competitiva a agricultura brasileira. Vários fatos indicam quão infundada é essa afirmativa.

O primeiro fato é que quem aprovou as regras ambientais brasileiras foi o Congresso Nacional ou o Executivo. As principais mudanças recentes ocorreram como respostas as crises ambientais; portanto, dissociadas de qualquer agenda internacional. Por exemplo, em 1986 o Congresso aprovou a expansão da faixa de floresta que deve ser mantida em torno dos rios (Área de Proteção Permanente) com base na proposta de um Deputado Federal de Santa Catarina após enchentes traumáticas naquele estado. Em 1999, o Presidente da República estabeleceu as penas para crimes ambientais ao regulamentar a Lei de Crimes Ambientais. Isso ocorreu após o grande incêndio florestal em Rondônia em 1998. Em 1996, o Presidente aumentou a Reserva Legal na Amazônia de 50% para 80% por meio de uma Medida Provisória assustado pelo desmatamento recorde em 1995, que foi quase o dobro do registrado em 1994.

O segundo fato é que quem domina o agronegócio internacional lucra em qualquer lugar. Assim, eles não tem interesse em prejudicar o setor em lugar nenhum. Quem domina o agronegócio mundial? São as grandes multinacionais de insumos (fertilizantes, agrotóxicos, sementes, etc.) e comércio de produtos agropecuários. Não é a toa que elas têm grande presença no Brasil. E não é a toa que algumas delas financiam as campanhas de parlamentares que querem reduzir a proteção ambiental no Brasil.

O terceiro fato é que os agricultores de países desenvolvidos têm meios mais fáceis de se protegerem dos agricultores brasileiros em seus próprios países do que fazer lobby no Brasil. Eles se protegem comprando apoio dos parlamentos de seus países que estabelecem subsídios para sua produção e barreiras tarifárias para produtos estrangeiros como ocorre no caso do etanol e da laranja nos EUA.

Assim, quando ouvir algúem repetindo o mito do complô internacional, esclarece-o se ele for um ignorante ou tire a máscara dele se ele for um mentiroso.

Depois de tirar as bobagens do caminho, será possível discutir as reformas realmente necessárias do Código Florestal. Veja algumas idéias sobre como avaçar em Código Florestal: como sair do impasse?

6 Responses to Qual a maior bobagem sobre a reforma do Código Florestal?

  1. Caro Paulo, você deturpou aquilo que nós, ruralistas, dizemos.

    Vamos reformular.

    ONGs estrangeiras e ONGs brasileiras que fazem lobby ambiental no Brasil são financiadas com $$ de governos de países desenvolvidos. Essas mesmas ONGs não fazem lobby do mesmo tipo em seus países de origem.

    Por quê?

    Exemplo. O Paulo Adário vai ao exterior para dizer que a APP na Amazônia tem de ser de 30m. O Greenpeace (que, segundo se diz, é financiado apenas por CPFs, não por CNPJs) tem origem na Holanda. Por que o Paulo Adário não exige APP de 30m na Holanda?

    A Embaixada britânica financia ONGs que fazem lobby ambiental no Brasil para manter a reserva legal em 80% na Amazônia. Não seria o caso de os britânicos antes implantarem essa regra no seu próprio país, para depois exigirem dos demais? Pelo menos foi assim que eles fizeram com a escravidão (primeiro pararam de lucrar com ela, depois passaram a exigir que nós também parássemos).

    Imagine a situação hipotética em que o governo brasileiro, empresas privadas brasileiras e ONGs brasileiras investem dinheiro e pessoas para fazerem lobby para que o governo chinês proiba veículos que consomem mais do que o 1L de gasolina para rodar 10 Km. O argumento seria que a China tem 1,3 bilhão de habitantes, e se eles não fizerem isso os netos de todos nós sofrerão com mudanças climáticas daqui a 100 anos. Como a maior parte dos chineses ainda não têm carros, não é um ônus tão grande para eles fazerem isso.

    O detalhe é que aqui no Brasil ficaríamos todos liberados para dirigirmos os carros que quiséssemos!

    Não seria justo dizer que as pessoas que defendessem a proposta brasileira na China estariam criando um ônus para a China e um bônus para o Brasil?

    É exatamente essa a situação dos ambientalistas que fazem lobby no Brasil financiados pelos britânicos, canadenses e estadunidenses.

    • Paulo Barreto disse:

      Caro Petterson,

      agradeço suas considerações.

      Infelizmente, tem gente jogando fumaça para ofuscar o debate ambiental sim. Uma das fumaças é a de quem defende meio ambiente no Brasil atende interesses internacionais. O interesse é nacional antes de tudo.

      Quanto ao ambientalismo em outros países, eu estudei nos EUA e acompanho o que ocorre em outros lugares. A polêmica ambiente x crescimento a qualquer custo está em todos os lugares democráticos e em até naqueles menos democráticos. As ongs internacionais atuam em vários países, inclusive nos mais desenvolvidos e se somam as ongs locais. Em alguns lugares, infelizmente o ambientalismo tem perdido com sérias consequencias ambientais.

      No livro Food Politics, Robert Paarlberg professor de Harvard declara :

      “Produtores rurais em países ricos são poderosos politicamente não somente para demandar subsídios que encorajam o uso excessivo de insumos; eles são poderosos o suficiente para evitar que sejam responsabilizados pelos danos ambientais que causam além das fazendas. Por causa do poder do lobby rural, a poluição do ar e da água oriunda das fazendas em países ricos é muito menos regulamentada do que a poluição das outras indústrias.”

      Ele cita exemplos dos danos desta situação como a Zona Morta no Golfo do México (http://ciencia.hsw.uol.com.br/zona-morta.htm), uma área altamente poluída.

      Sei que alguns ruralistas brasileiros querem ser tão eficientes quanto o lobby europeu ou americano. Ma,s não desejo que importemos maus exemplos de outros países. Já temos problemas sufientes por aqui.

      Paulo Barreto

  2. Lincoln disse:

    Senadora acusa instituto de divulgar dados inverídicos sobre desmates
    Fonte: Agência Senado

    Em discurso nesta terça-feira (17), a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) acusou o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) de divulgar dados inverídicos sobre a evolução do desmatamento na região amazônica. – Este instituto ambientalista divulgou informações tendenciosas e, na minha avaliação, inverídicas a respeito do aumento do desmatamento na Amazônia do Brasil – afirmou.

    De acordo com a senadora, o Imazon é uma entidade não governamental financiada por recursos internacionais, principalmente de empresas europeias, e também por recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

    – O BNDES que financia a expansão do desenvolvimento do Brasil. O BNDES que financia as indústrias, que financia comércio, que financia a produção, também está financiando o Imazon para causar terrorismo na população brasileira – disse.

    Kátia Abreu informou que dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desmentem as alegações do Imazon sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. De acordo com a senadora, em 2005 o Brasil assumiu compromisso de reduzir a área desmatada para no máximo 5,8 mil quilômetros até 2020 e, faltando ainda quase dez anos, já alcançou 6,5 mil quilômetros.

    – Os números estão desmentindo o Imazon. Não é verdade que o desmatamento no Brasil está sendo ampliado – afirmou.

    Agronegócio

    A senadora defendeu o setor de agronegócio brasileiro como essencial para o equilíbrio do país. Segundo ela, o agronegócio gera um terço dos empregos no Brasil e corresponde a 40% das exportações brasileiras, além de ser o único setor superavitário na balança comercial nacional.

    – Nós precisamos, sim, preservar a natureza; precisamos, sim, cuidar da biodiversidade; precisamos cuidar da riqueza dos nossos biomas; mas não podemos abrir mão do produto nobre deste país. O que sustenta a economia nacional chama-se agronegócio – declarou

    A senadora não pode ser incluida entre os ignorantes então……………….

  3. Lincoln disse:

    A maior bobagem repetida por alguns ruralistas é a de que quem defende meio ambiente serve a interesses internacionais de prejudicar o Brasil. Especificamente, seriam ONGs financiadas por capital estrangeiro que quer tornar menos competitiva a agricultura brasileira. Vários fatos indicam quão infundada é essa afirmativa.
    Esta bobagem, a mais d ita e repetida, mascara o interesse de destruir para lucrar mais. Esta bobagem dita por quem lucra com a destruição passa a ser repetida por ruralistas que na maioria são desinformados ou recebem a informação distorcida pelos que tem lucro imediato com a destruição ou por quem é patrocinado por quem tem lucro imediato com a destruição.
    No caso da nossa Amazônia esta bobagem é dita pelos madeireiros que teimam em continuar garimpando a madeira sem qualquer critério e principalmente por quem desmata para especular com enorme lucro e até agora ficaram imunes às ações de controle.
    Dito por tanta gente passa a ser repetido por grande parte da população local.
    Dito e repetido e vendo a impunidade de quem diz e principalmente lucra com esta bobagem a população local passa a acreditar que a bobagem é a verdade e passa a repetir e de tanto ser dita e repetida passa a ser a verdade local.

  4. Adriana Ramos disse:

    Muito bom! Essa é daquelas mentiras que repetem bastante para ver se viram verdades!

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