Marina Silva: uma política em busca da verdade


Em junho deste ano uma pesquisa mostrou que apenas 11% dos brasileiros confiam nos políticos.  Além disso,  na mesma pesquisa os políticos ficaram em último lugar da confiabilidade entre 20 profissões. Esses resultados são esperados, considerando o que se vê no dia a dia da política nacional.  Quem confia em algum político parece ingênuo ou deve conhecer algum político raro.

Felizmente, tive a chance de conhecer uma política rara: Marina Silva.

Em agosto de 2007 eu participei do V Seminário do  Ministério do Meio Ambiente (MMA) para avaliar os dados do desmatamento. Nesses eventos representantes do Poder Público, especialistas da sociedade civil e pesquisadores avaliam as tendências do desmatamento, o efeito das políticas de controle e como aperfeiçoá-las.

Eu fui preparado para uma situação difícil. O governo estava comemorando o declínio do desmatamento desde 2005 como um efeito das políticas que vinha executando: a criação de  Unidades de Conservação, o aumento da fiscalização, entre outras. A análise que eu apresentaria tinha potencial de ser um balde de água fria na comemoração – ou pelo menos meio balde. E assim o foi.

Minha apresentação foi na seção final, depois de um dia e meio de seminário. Os representantes do MMA já haviam exaltado os efeitos de suas medidas. Minha apresentação foi o anticlímax. Mostrei que a queda do desmatamento foi, em grande medida, resultado da queda dos preços de gado e soja e que a criação das áreas protegidas naquele período foi modesta. Ademais, mostrei que a baixíssima arrecadação das multas (menos de 5% do valor total) enfraquecia o efeito da fiscalização. Se o esforço de fiscalização tivesse sido completamente eficiente o desmatamento deveria ter sido zero, mas ficou em cerca de 14.000 km2 em 2006.

A então Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que acompanhou todo o evento, assistiu a apresentação. Porém, a primeira reação veio de um dos seus principais assessores. Com veemência ele questionou e até tentou desqualificar as análises. Fiquei tranquilo porque confiava na solidez da análise estatística, mas desapontado com a reação. Se o governo desconsidera as evidências sobre os problemas que trata, desperdiça as chances de melhorar.

Daí veio a reação reconfortante de Marina Silva. Ela desautorizou a reação de seu assessor e apontou o caminho a seguir. Ela disse algo como:

“Estamos aqui em busca da verdade! Temos que avaliar o que está acontecendo. Se apesar dos nossos esforços, é o preço do boi que está influenciando o desmatamento, talvez a gente tenha que laçar o boi no pasto.”

Ela concluiu reforçando a necessidade de aperfeiçoar as políticas. Esse direcionamento talvez tenha encorajado o diretor de fiscalização do Ibama a afirmar que a palavra chave do evento seria a responsabilização – ou seja, aplicar as penas depois da fiscalização.

Um político típico talvez tivesse reforçado a crítica do assessor e continuado a comemoração; ou talvez se calado em público e buscasse a verdade apenas nos bastidores.

A prova de que Marina procurava a verdade veio depois.

Em dezembro de 2007 o Imazon e o Inpe mostraram que o desmatamento voltava a crescer. A Ministra Marina convenceu o governo a lançar o pacote mais duro contra o desmatamento, incluindo medidas para acelerar a aplicação de penas ambientais; inclusive o confisco de gado criado em áreas desmatadas ilegalmente.  As reações a estas medidas também foram duras, envolvendo parlamentares, empresários e governadores.

O Presidente Lula deu sinais que recuaria. Marina foi firme. Disse que perderia o pescoço, mas não a cabeça. Ela saiu e o governo, constrangido, teve que manter o seu plano. A ação mais espetacular foi o confisco de cerca de 3.000 reses em uma Unidade de Conservação no Pará seguida do leilão. O reforço da fiscalização e a crise econômica, que começou em setembro de 2008, ajudaram a reduzir o desmatamento em torno de 45%.

Em agosto de 2009 eu reencontrei a Senadora Marina em um seminário sobre jornalismo ambiental no qual ela palestrou e eu fui um dos debatedores. Em um trecho da sua palestra ela falou do esforço de fazer políticas consistentes enquanto esteve no governo. Ela então lembrou-se do caso do seminário de avaliação do desmatamento e me perguntou algo como:

“Você se lembra que quando mostrou que havia problemas na nossa política nós escutamos e mudamos a política?”

Eu acenei com a cabeça que lembrava. Como eu poderia esquecer do dia em que vi um político em busca da verdade?

E você está em busca da verdade?

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Agradecimento: Gláucia Barreto revisou o texto.

Clique aqui para ver a análise que apresentei sobre a efetividade da política de controle do desmatamento em 2007.

Clique aqui para ver análise sobre a redução do desmatamento.

3 Responses to Marina Silva: uma política em busca da verdade

  1. Inspetor de cidadania disse:

    Analise ortografica e gramatical dos seguintes trechos: “planes”, “na Rondonia”, “apoiou ao “Avatar””, “o PV esta financiado”, “correcto”, e “[debate] em EUA e UE” indicam que Elba Jayuya é agente duplo!!!! Usa papo-furado com credibilidade zero para desacreditar quem defende o Brasil e os brasileiros. Para eliminar qualquer duvida, repeat after me: “tirar água do poço eu não posso”

  2. elba jayuya disse:

    Ela foi nobre no sentido da Mae Teresa – mais agora e a aliada de fato com intereses estrangeiros de sabotaer o desenvolvimento do Brasil. Ele nem quer desenvolver o cerrado, a teve problemas com os planes do MST na Rondonia. Ao fim, ele apoiou ao “Avatar” James Cameron e outros agentes-de-fato dos EUA de fazer propaganda contra o Brasil como “ainda” INCOMPETENTES de salvar a natureza. O PV esta financiado pelo magnate Leal – e quem sabe mais…? O debate entre brasileiros e correcto – mais sem “influencia” dos inimigos do Brasil – em EUA e UE!

  3. Deco Sampaio disse:

    Tomara que exista esperança. Marina me parece a melhor opção de voto.

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